quinta-feira, 8 de agosto de 2013

«Lá por ser dourada não deixa de ser uma gaiola»

Saíram clandestinos para fugir ao serviço militar que durava seis anos, saíram porque em casa não havia sustento, saíram porque foram expulsos dada à sua religião, saíram para escapar à ditadura, saíram para fazer fortuna, saíram para exercer a profissão para que estudaram, saíram à procura de uma vida digna. Desde o século XVIII, saíram aos milhares de Portugal Continental, dos Açores e da Madeira.
 
É uma gaiola de porta aberta e onde se permanece com um pé fora e outro dentro, para sempre. Assim é, pelo menos o que perceciono da experiência da emigração. Não sou emigrante, nem migrante e por isso falo hoje como quem vê de fora. São-no vários dos meus amigos, de diferentes gerações e por motivos distintos. Uns foram, outros foram e voltaram, alguns pensam ficar, outros voltaram e não querem tornar a sair, outros arrependem-se de ter voltado e outros não sabem.
 
Numa breve pesquisa que fiz em tempos com eles, as saudades faziam-se sentir da família e das amizades, da comida, da língua, da cultura e dependendo do país, do clima e da segurança.  Quando se está lá recorda-se o que cá se deixou mas, quando se chega cá os sentimentos também se dividem, foi lá que ficou a casa, uma rotina por vezes mais calma, os novos hábitos e comportamentos, aquilo que agora também é parte da sua identidade. E os que regressaram reformados lembram também com saudade os bons momentos que lá viveram. 
 
A principal palavra que me ocorre quando penso em (e)migração é coragem. Se hoje temos quem se aventure a novos mundos e novas experiências porque sente essa vontade de evoluir pessoal e profissionalmente, não deixamos de ter aqueles que partem de coração triste, sem saber falar a língua do país de destino e às vezes sem saber se têm onde dormir.
 
Mesmo no primeiro caso, aquele que é o de uma nova geração bem preparada e remunerada com vontade de explorar novas vidas, nunca considerei que emigrassem de ânimo leve e por isso continuo a admirar a sua coragem. (Obrigada, afinal nem tudo são rosas seja em que parte do Mundo for e anda por aí muito boa [detalhe discutível] gente mal informada). Sim, eu sei, o mundo mudou, temos que pensar global e deixar a zona de conforto não é? A verdade é que nada disso é novo para os portugueses. Pelas piores razões, cedo descobriram o tamanho do mundo.
 
A Gaiola Dourada, de Ruben Alves, é uma comédia que retrata uma dada vaga de emigração. Dedicado aos seus pais, emigrantes em França, recupera certos estereótipos, certos linguajares, certos comportamentos e uma certa vergonha que os filhos sentem dos pais. Fala da possibilidade de concretizar mais cedo do que previsto o sonho de voltar para Portugal e como ao fim de 30 anos, as respostas fáceis se tornaram difíceis.
Há quem se tenha reconhecido, há quem se tenha sentido ofendido. Esta crónica não é uma crítica de cinema, o filme cabe aos leitores avaliar.
 
A mim deu-me para pensar, na vida e nas emoções das gentes que partem, no seu esforço de adaptação, na atenção que lhes reclama quem cá fica quando chegam de férias, nas chegadas e nas partidas, nas descobertas de novos lugares e de novos amigos, nas suas vitórias e nos seus sucessos. (Falo por mim, reapareço com vontade de ter uns dias calmos, sem pressas e aproveitar tudo mas é sempre impossível porque querem por bem consumir o tempo que tenho, afinal reapareço em vidas e rotinas que pouco ou nada mudaram e nesses dias a 'novidade' sou eu.. nunca é o mesmo quando se tem os dias limitados, contados.) No parecer ser, tão português, no como a comunidade emigrante se trata entre si e no pouco que sabe de nós quem nos acolhe por esse mundo fora!
 
Lá por ser dourada não deixa de ser uma gaiola mas, para mim, é apenas perceção.

(Fonte: Expresso)


Pessoalmente, eu não vi o filme.
E vou deixar o que penso para daqui a 48 dias.

2 comentários:

AF disse...

Vi hoje o filme. Vê! :) *

Ana disse...

I will :)